Motoboy passa quase 2 anos preso por crime que não cometeu e é solto após vítima admitir engano
O pesadelo do motoboy Jorge Luiz Freitas dos Santos, de 27 anos, chegou ao fim nesta quarta-feira (28), após o Tribunal de Justiça do Ceará anular, por unanimidade, sua condenação injusta a mais de nove anos de prisão por estupro. Ele passou quase dois anos encarcerado até que a própria vítima voltou atrás e reconheceu que havia se confundido na hora da acusação.
A decisão foi tomada após uma ação de revisão criminal da Defensoria Pública do Estado. A vítima procurou o órgão e admitiu não ter condições de reconhecer corretamente o autor do crime, cometido em 2018. Segundo ela, o simples fato de ter ouvido o nome “Jorge” durante o ataque a levou a associar, de forma equivocada, o ex-namorado com quem havia terminado o relacionamento.
Jorge estava em casa no dia do crime, como confirmaram testemunhas e provas apresentadas pela Defensoria. Conversas de WhatsApp no horário do estupro reforçaram seu álibi.
O defensor público Emerson Castelo Branco classificou a decisão como um marco:
“A Justiça pode acertar, mas também erra. E nosso dever é corrigir os erros. Muitas vezes a sociedade olha para o preso e já o julga culpado. Mas há inocentes atrás das grades, como no caso de Jorge”, destacou.
O pai do motoboy, Silvio, emocionado, agradeceu o apoio da família e da Defensoria:
“Foram dias de dor e incerteza. Hoje recomeçamos uma nova vida”.
O caso
A vítima havia sido sequestrada e agredida por homens encapuzados em setembro de 2018. Durante o ataque, ouviu os criminosos se chamando por “Jorge” e “Fernando”. Abalada, relacionou o nome ao ex-namorado e fez o reconhecimento equivocado.
Mais tarde, ao conversar com uma psicóloga, percebeu o erro e relatou o sofrimento por ter contribuído para a prisão de um inocente. O Ministério Público, diante das novas provas, também apoiou a anulação da sentença.
O drama de Jorge Luiz escancara uma ferida do sistema penal brasileiro: a facilidade com que inocentes podem ser condenados apenas com base em testemunhos frágeis ou reconhecimentos falhos. Não é só um erro processual, é uma vida interrompida.
E fica a pergunta incômoda: quem vai devolver quase dois anos perdidos a esse trabalhador? Justiça tardia pode até corrigir um erro, mas não apaga os danos.
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